Pensamentos de Mestre Pastinha em sua visão filosófica
da arte da Capoeira Angola. Aqui estão alguns fragmentos de documentários e entrevistas com o mestre, que revelam o conhecimento e o amor que ele manteve pela Capoeira e pela nossa cultura durante toda sua vida. Simplesmente um dos maiores ícones da história
“Eu me chamo Vicente Ferreira Pastinha. Eu nasci pra capoeira, só deixo a capoeira quando eu morrer. Eu amo o jogo da capoeira. E não há outra coisa melhor na minha vida do que a capoeira.”
“Eu sou um dos exemplos do passado. Aqui tem muitos veteranos, velhos mesmo, capoeirista veterano, mais idoso do que eu. Menino das meninas dos meus olhos... Capoeirista.”
"Ninguém pode mostrar tudo o que tem às entregas e revelações. Têm que ser feito aos poucos. Isso serve na capoeira, na família e na vida. Há momentos em que não podem ser divididos com ninguém e nestes momentos existem segredos que não podem ser contados à todas as pessoas".
“Capoeira é muito mais do que uma luta, capoeira é ritmo, é música, é malandragem, é poesia, é um jogo, é religião. (...) A capoeira é tudo que a boca come”.
“Pratico a verdadeira Capoeira Angola e aqui os homens aprendem a ser leais e justos. A lei de Angola que herdei de meus avós é a lei da lealdade. A Capoeira Angola, a que aprendi, não deixei mudar aqui na Academia. Os meus discípulos zelam por mim. Os olhos deles agora são os meus.”
“O que eu gosto de lembrar sempre é que a capoeira apareceu no Brasil como luta contra a escravidão. Nas músicas que ficaram até hoje se percebe isso. Entenda quem quiser, está tudo ai nesses versos o que a gente guardou daqueles tempos.”
“Mas o que serve para a defesa também serve para o ataque. A Capoeira é tão agressiva quanto perigosa. Por causa de coisas de gente moça e pobre, tive algumas vezes a polícia em cima de mim. Barulho de rua, presepada. Quando tentavam me pegar, eu me lembrava do Mestre Benedito e me defendia. Eles sabiam que eu jogava capoeira e queriam me desmoralizar na frente do povo. Por isso, bati alguma vez em polícia desabusado, mas por defesa de minha moral e do meu corpo.”
“Quem não sabe lutar é sempre apanhado desprevenido. Agora que o ritmo está mais apressado, sinto a agilidade desses dois homens e imagino raiva, medo, despeito, desespero empurrando esses pés... uma vez vi um capoeirista afugentar uma patrulha inteira.”
“Não se pode esquecer do berimbau. Berimbau é o primitivo mestre. Ensina pelo som. Dá vibração e ginga ao corpo da gente. o Conjunto de percussão com o berimbau não é arranjo moderno, não, é coisa dos princípios. Bom capoeirista, além de jogar, deve saber tocar berimbau e cantar.”
“Meus meninos são diplomados. Saem daqui da Academia sabendo tudo. Sabendo que a luta é muito maliciosa e cheia de manhas, que a gente tem de ter calma. Que não é uma luta atacante, ela espera.
Capoeirista nunca dizia a ninguém que lutava. Era homem astuto e ardiloso, como a própria luta, que se disfarçou com a dança para sobreviver depois que chegou de Angola. Capoeirista é mesmo muito disfarçado. Contra a força só isso mesmo. Está certo.”
“O Capoeirista é um curioso, tem mentalidade para muita coisa, sabendo aproveitar de tudo o que o ambiente lhe pode proporcionar. E a Capoeira Angola só pode ser ensinada sem forçar a naturalidade da pessoa. O negócio é aproveitar os gestos livres e próprios de cada um.”
“Ninguém luta do meu jeito, mas no deles há toda a sabedoria que aprendi. Cada um é cada um.”
“E jogar precisa ser jogado sem sujar a roupa, sem tocar o corpo no chão. Quando eu jogo, até pensam que o velho está bêbado, porque fico todo mole desengonçado, parecendo que vou cair. Mas ninguém ainda me botou no chão, nem vai botar.”
“Os negros usavam a capoeira para defender a sua liberdade. No entanto, malandros e gente infeliz descobriram nesses golpes um jeito de assaltar os outros, vingar-se de inimigos e enfrentar a polícia. Foi um tempo triste da capoeira.”
“Eu conheci, eu vi. Nas bandas das docas... luta violenta, ninguém a pôde conter. Eu sei que tudo isso é mancha suja na história da Capoeira, mas um revólver tem culpa dos crimes que pratica? E a faca? E os canhões? E as bombas? A capoeira angola parece uma dança, mas não é não. Pode matar, já matou. Bonita! Na beleza está contida sua violência.”
"Capoeirista não é aquele que sabe movimentar o corpo, e sim aquele que se deixa movimentar pela alma".
“Tudo o que penso da capoeira está naquele quadro que está na porta da academia. Em cima só estar três palavras:”
“Angola, capoeira, mãe. E embaixo, o pensamento: ‘Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método e seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista”.
Mestre Pastinha